terça-feira, 1 de novembro de 2016

Iraquiana sequestrada pelo Estado Islâmico foi vítima de "jihad sexual"



As iraquianas Nadia Murad Basee e Lamiya Aji Bashar foram algumas das centenas de mulheres escravizadas pelo grupo autodenominado Estado Islâmico.
Uma vez libertadas, elas se tornaram porta-vozes das vítimas da campanha de violência sexual empreendida pelos extremistas.
Na semana passada, Nadia e Lamiya receberam da União Europeia o importante prêmio Sájarov à Liberdade de Consciência.
Quando integrantes do grupo autodenominado Estado Islâmico (EI) invadiram a aldeia de Nadia Murad no Iraque, mataram todos os homens, incluindo seis de seus irmãos.
Nadia é da minoria étnica e religiosa yazidi, considerada "infiel" pelos extremistas do EI.
Ela e centenas de outras mulheres yazidis foram sequestradas, vendidas e passadas de mão em mão por homens que as estupraram em grupo. Foram vítimas do que o EI chama de "jihad sexual".
Nadia conseguiu fugir, mas acredita-se que milhares de mulheres continuem presas.
Nadia Murad está em Londres em campanha para chamar a atenção para seu povo.
O ataque
Em 3 de agosto de 2014, o EI atacou os yazidis em Sinjar, região no norte do Iraque próxima a uma montanha de mesmo nome. Antes disso haviam atacado locais como Tal Afar, Mosul e outras comunidades xiitas e cristãs, forçando a saída dos moradores.
"A vida em nosso vilarejo era muito feliz, muito simples. Como em outros vilarejos, as pessoas não viviam em palácios. Nossas casas eram simples, de barro, mas levávamos uma vida feliz, sem problemas. Não incomodávamos os outros e tínhamos boas relações com todos", contou Nadia ao programa HARDtalk da BBC.
Nesse dia, diz ela, 3 mil homens, idosos, crianças e deficientes foram massacrados pelo EI.
Alguns conseguiram fugir e se refugiar no monte Sinjar, mas a aldeia estava longe da montanha e o EI cercou as saídas.
Perseguidos pelo EI, os yazidis reverenciam a Bíblia e o Alcorão, mas grande parte de sua tradição é oral
"Rodearam a aldeia por alguns dias mas não entraram. Tentamos pedir ajuda por telefone e outros meios. Sabíamos que algo horrível iria acontecer. Mas a ajuda não chegou, nem do Iraque nem de outras partes."
Depois de alguns dias, o EI encurralou os moradores na escola da aldeia e ali seus militantes mantiveram homens, mulheres e crianças.
"Deram-nos duas opções: a conversão ao Islã ou a morte", disse Nadia.
Assassinatos, sequestros e estupros
Logo separaram os homens, cerca de 700. Levaram todos para fora da aldeia e começaram a baleá-los. Nove irmãos de Nadia estavam entre eles.
Seis dos irmãos de Nadia morreram ─ três ficaram feridos mas escaparam.
"Da janela da escola podíamos ver os homens sendo baleados. Não vi meus irmãos sendo atingidos. Até hoje não pude voltar à aldeia nem ao local da matança. Não há notícias de nenhum dos homens."
Segundo Nadia, meninas acima de nove anos e meninos acima de quatro anos foram levados a campos de treinamento.
"Depois levaram umas 80 mulheres, todas acima de 45 anos, incluindo minha mãe. Uns diziam que haviam sido mortas, outros que não. Mas quando parte de Sinjar foi liberada encontrou-se uma vala comum com seus corpos", conta.
Ao todo, 18 membros da família de Nadia morreram ou estão desaparecidos.
Nadia foi levada com outras mulheres. Havia cerca de 150 meninas no grupo, incluindo três sobrinhas dela.
Elas foram divididas em grupos e levadas em ônibus até Mosul.
"No caminho eles tocavam nossos seios e esfregavam as barbas em nossos rostos. Não sabíamos se iam nos matar nem o que fariam conosco. Percebemos que nada de bom iria ocorrer porque já tinham matado os homens e as mulheres mais velhas, e sequestrado os meninos."
Ao chegar ao quartel-general do EI em Mosul, encontraram muitas jovens, mulheres e meninas, todas yazidis. Tinham sido sequestradas em outras aldeias no dia anterior.
A cada hora, homens do EI chegavam e escolhiam algumas meninas. Elas eram levadas, estupradas e devolvidas.
Nadia percebeu que esse também seria seu destino.
Após fugir com ajuda de uma família muçulmana sem conexão com o EI, Nadia viaja o mundo chamando a atenção para o drama do povo yazidi.

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