segunda-feira, 17 de setembro de 2018

A revolução comuno-maçônica na Espanha

Na imagem, Stalin, Molotov e Voroshilov em Puerto de Alcalá(Espanha)









    

A Espanha entrou no século XX seguindo sua tradição centenária de ser um dos países mais católicos da Europa. Não é possível conceber uma nação espanhola sem o catolicismo. Desde os visigodos, a Igreja marcou sua forte presença quando seus sínodos equivaliam à assembleias políticas e seus decretos tinham força de lei para todo o reino. A unidade espanhola foi construída durante a Reconquista quando os católicos retomaram das mãos dos muçulmanos a Península Ibérica. A unificação espanhola veio em 1492, com o casamento de Fernando de Aragão e Isabel de Castela, que receberam o título de “reis católicos”. Era impossível saber se o orgulho do povo provinha de ser católico ou ser espanhol. A relação entre a Igreja Católica e o Estado espanhol sempre foi tão profunda que muitas vezes se misturaram, ocasionando ora prejuízos, ora vantagens para ambos.

A Espanha entra no século XX mantendo sua longa tradição católica e em franca decadência política e econômica, em nada se parecendo com a sede de um império que abrangeu todos os continentes. Era certo que o país precisava modernizar-se política e economicamente e houve a tentativa de instaurar-se uma república no início do século, trazendo consigo a herança republicana da França, com todos os preconceitos intelectuais onde pregavam que qualquer avanço político-social só poderia ser levado adiante se a Igreja fosse eliminada. Conforme Royal (2001, p. 147), os “republicanos” espanhóis eram, em sua maioria, frutos das lojas maçônicas e compunham uma amálgama de ideologias, contendo poucos democratas e muitos radicais socialistas, comunistas e anarquistas, em geral, bastante violentos e ateus anticlericais.

Após o governo estabilizador do ditador Miguel Primo de Rivera (1923-1930) e os breves mandatos de Dámaso Berenguer e Juan Bautista Aznar-Cabañas marcados por distúrbios populares e levantes, as eleições regionais em abril de 1931 demonstraram o baixo apoio popular à monarquia e, para evitar um eminente derramamento de sangue, o rei Afonso XIII abdicou e exilou-se na Inglaterra. Tinha início, assim, a Segunda República e com ela a perseguição aos católicos da Espanha, onde “em tempo algum no curso da história da Europa, talvez mesmo de todo o mundo, viu-se um ódio tão apaixonado à religião e suas obras” (THOMAS, 1964, p. 271).

Foi durante o regime monárquico que um feroz anticlericalismo começou a ganhar formas, mas seus excessos foram contidos pela ditadura. Para os republicanos, derrubada a monarquia, era o momento de extirpar a Igreja do território espanhol. A propaganda anticatólica foi disseminada por todo o país através da publicação de jornais, revistas, apresentação de peças de teatro e discursos transmitidos pelo rádio. A prática seguia o itinerário já conhecido: apresentavam a Igreja como intolerante e opositora de qualquer mudança socioeconômica na sociedade espanhola, favorecida pelo governo com diversos privilégios, proprietária de enorme riqueza enquanto mantinha o povo na pobreza através de um controle insuportável exercido sobre o comportamento das pessoas e acusada de invariavelmente se colocar ao lado dos poderosos, ricos e opressores (ORTÍ, 1995, pp. 46-49). Em resumo, a Igreja Católica era tida como a principal causa de todos os males da Espanha, inimiga da República e do povo. Esta era a imagem que os laicistas forneceram da Igreja e que penetraram na consciência das massas populares. Contudo, afirma Ortí (1995):

Às acusações lançadas pelos anticlericais e inclusive pelos políticos moderados e de direita contra a Igreja na Espanha, deve-se responder que eram, em 1931, em parte exageradas e em parte gratuitas. Uma campanha propagandística cujo ensinamento e grosseria possam parecer hoje incríveis, mas que resultaram de provada eficácia. Cunhada a imagem de uma Igreja rica, poderosa e corrompida, inimiga da República e do povo, precisamente quando a Igreja estava realizando todo o possível para encaminhar os fiéis pela via pacífica da legalidade. A riqueza da Igreja estava nos tesouros artísticos de seus templos e em seu patrimônio documental conservado em arquivos diocesanos e paroquiais, em monastérios e em conventos. Mas o clero vivia na miséria e, pese a frequentes reclamações durante a ditadura, não se conseguiu elevar justamente a dotação econômica do mesmo. No entanto, a reiterada insistência do anticlericalismo conseguiu fazer o povo crer exatamente o contrário (ORTÍ, 1995, p. 48).

A data do início da perseguição à Igreja Católica é colocada frequentemente pelos historiadores após o Alzamiento, o levante militar comandado por Francisco Franco contra o governo e que foi o estopim da guerra civil, quando a Igreja foi vista como aliada do general. Porém, mesmo sem jamais ter havido um edito de perseguição, os fatos demonstram que esta teve início já em maio de 1931, posto que “as omissões e a tolerância à violência e certa colaboração oculta ou indireta provam que o governo estava pouco preocupado com a situação dos católicos” (ORTÍ, 1990, p. 18).

Em maio de 1931, um mês após o fim da monarquia, antes do martírio dos católicos, teve início o “martírio das coisas” (CORÇÃO, 1972, p. 214). Os discursos anticlericais e anticatólicos surtiram efeito sobre as massas populares. Milícias armadas pelo governo, conhecidas como “incontroláveis” (ROYAL, 2001, p. 143) avançaram sobre as igrejas, mosteiros e conventos que foram saqueados e incendiados sem que as forças de segurança do governo ou a Guarda Civil interviessem. Quase uma centena de edifícios eclesiais foi destruída por toda a Espanha sem que ninguém fosse punido ou, ao menos, fosse processado por estes atos (ORTÍ, 1995, pp. 54-55). Até 1936, seriam 411 igrejas destruídas. A declaração do ministro da guerra, Manuel Azaña, demonstra a posição do governo diante do vandalismo generalizado: “Todos os conventos da Espanha não valem a vida de um único republicano” (ROYAL, 2001, p. 143).

As destruições e assaltos só vieram a comprovar a pobreza em que viviam os clérigos e religiosas. Enquanto se esperava encontrar grandes tesouros em ouro e dinheiro nos conventos e casas paroquiais, os despojos mostraram-se insignificantes. A riqueza da Igreja Católica consistia em seu patrimônio cultural, nas bibliotecas, nas obras de arte, na beleza arquitetônica. Justamente o que foi destruído pelos vândalos (ORTÍ, 1995, p. 19). Mas o ano de 1931 não ficou apenas marcado pelo “martírio das coisas”. De acordo com Royal (2001, p. 140), sete freiras visitandinas que tiveram seu convento incendiado em Madrid foram sequestradas e executadas por anarquistas.

Em outubro, a Assembleia Constituinte começou a debater a nova carta magna da nação. Durante os debates, a questão religiosa foi o principal, senão o único assunto. Foram propostos vários artigos anticatólicos, como o fim das escolas confessionais, a retirada de símbolos religiosos em lugares públicos, a proibição do culto público e a supressão das ordens religiosas (ORTÍ, 1990, p. 142). Os católicos republicanos se sentiram traídos, mas a despeito de todos os protestos, a Constituição da República foi aprovada em dezembro de 1931 e, no dia seguinte, Niceto Alcalá Zamora foi eleito presidente.

A legislação abertamente antirreligiosa não se fez esperar. Em 19 de janeiro de 1932, os professores nacionais receberam uma carta circular do diretor geral do Ensino Primário que lhes obrigava a retirar das escolas todo símbolo religioso, porque a escola deveria ser laica, e, em aplicação do artigo 43 da Constituição, foram suprimidos os crucifixos. Esta medida, ainda que legal, provocou grande irritação entre as numerosas famílias cristãs, que sentiram sua fé profanada e a educação de seus filhos ameaçada. Em 24 de janeiro foi dissolvida a Companhia de Jesus, já que o artigo 26 da Constituição declarou a supressão das ordens religiosas que, além dos três votos canônicos, impusessem a seus membros outro especial de obediência a uma autoridade distinta da autoridade legítima do Estado (ORTÍ, 1995, p. 60).

Continua Ortí (1995, p. 61):

Em dois de fevereiro foi aprovada a lei do divórcio e no dia seis foram secularizados todos os cemitérios. A partir de 11 de março foi suprimida a disciplina de “Religião” em todos os centros docentes. Mas a disposição legislativa mais polêmica do primeiro biênio republicano foi a Ley de Confesiones y Congregaciones religiosas, aprovada pelas Cortes em 17 de maio de 1933, com grande satisfação dos partidos de esquerda e publicada na Gaceta, em três de junho, que chegou a ser qualificada como obra mestra da República. O presidente Alcalá Zamora se negou a assiná-la até o último momento por considerá-la persecutória e apurou o tempo legal para sua promulgação até dois de junho. [...] Esta iníqua lei limitou o exercício do culto católico e o submeteu, na prática, ao controle das autoridades civis, com ampla margem para o arbítrio pessoal dos poderes municipais.

Além das disposições constitucionais, diversas leis anticatólicas regionais e municipais surgiram pela Espanha, regulando e restringindo o exercício da Igreja Católica. A Espanha vivia uma crise de governo e de ordem. Na tentativa de restaurar a governabilidade, o presidente demitiu o chefe de governo e a formação do novo contava com grande número de católicos e ministros de direita, já que a Confederación Española de Derechas Autônomas (CEDA), tinha a maioria dos deputados nas Cortes. Era o que bastava aos revolucionários de esquerda em todo o país. Acusando a direita de ser golpista, em outubro de 1934, explode a revolução socialista na Catalunha e nas Astúrias. O governo bombardeia Barcelona e em dez horas a revolução catalã é vencida. Nas Astúrias a situação se agravou. Em diversas localidades, os comitês constituídos por violentos comunistas proibiram toda manifestação religiosa e queimaram templos.

Os sacerdotes e religiosos foram considerados inimigos do povo e foi dado ordem para que fossem todos detidos. Aqueles que não puderam fugir ou esconder-se foram presos em cárceres improvisados e submetidos à múltiplas humilhações e atropelos. Não se levou em conta nem a idade, nem qualquer outra consideração. Apesar das ordens recebidas, em vários lugares foram fuzilados sem piedade, algumas vezes em meio ao ódio desatado de turbas enaltecidas ou em ocasiões em que era feita a simulação de um julgamento popular onde os comitês erigiram-se em tribunais e os juízes foram os mesmos carrascos que executaram as sentenças (ORTÍ, 1995, p. 69).

A revolução socialista nas Astúrias durou quinze dias e foi derrotada pelo governo, deixando um saldo de 34 sacerdotes e religiosos mortos. Os corpos dos religiosos eram cortados em pedaços e pendurados em frente aos açougues com os dizeres: “carne de porco” (CORÇÃO, 1972, p. 245). Porém, o pior estava por vir. Em meio à turbulência política, em janeiro de 1936, o presidente dissolveu as Cortes. Dias depois, o líder da esquerda espanhola, Largo Caballero, afirmou que a implantação do marxismo era solução para a Espanha. No mês seguinte, as eleições mostraram que a direita espanhola e a Frente Popular – uma coligação de esquerda que reunia comunistas, socialistas e anarquistas – estavam praticamente empatadas revelando a profunda divisão que se encontrava a sociedade espanhola. A Frente Popular assumiu o governo sem a devida prudência que evitaria aprofundar o racha entre os espanhóis. Em março, alguns generais se reuniram em Madrid e avisaram que interviriam se o governo não contivesse as desordens, se ameaçasse implantar o marxismo e se Largo Caballero, conhecido como o “Lênin espanhol”, fosse nomeado primeiro-ministro.

Naquele mesmo dia, cinco igrejas, um convento, um seminário e uma escola católica foram incendiados em Cádis. Outras tantas igrejas e casas paroquiais foram saqueadas. Aconteceram vários atentados contra a vida dos sacerdotes. Outros foram ameaçados, presos e expulsos de suas casas. Imóveis eclesiásticos foram desapropriados por autoridades locais e em muitas localidades houve limitações ao culto, proibição de procissões e outras manifestações religiosas. Cemitérios e sepulturas foram violados. Igrejas eram invadidas e tinham seus objetos e as hóstias profanadas. Para fomentar o ódio, acusações infundadas eram levantadas contra a Igreja, como a que, em 14 de maio, correu por Madrid: as religiosas salesianas estavam distribuindo caramelos envenenados às crianças. Incitada pelos radicais de esquerda e maçons, a turba enfurecida ateou fogo ao colégio e feriu gravemente as religiosas (ORTÍ, 1995, pp. 72-73).

Em 13 de junho de 1936, o líder da direita, Calvo Sotelo foi assassinado. Dia 18 de junho, os generais decidiram organizar um golpe de Estado e, sob o comando do general Francisco Franco, os militares e nacionalistas puseram-se em marcha (ROYAL, 2001, p. 149). Com o Alzamiento, tinha início a guerra civil espanhola e com ela um massacre de católicos jamais visto na história da Europa. À medida que Franco e seus comandados ganhavam terreno, a Espanha se dividia entre duas zonas: nacionalista e republicana. A repressão política se deu nas duas zonas e em ambas houve abusos e crueldades. Todavia, apenas na zona republicana explodiu a perseguição religiosa, já esboçada desde a fundação da República, em toda a sua fúria. A Igreja Católica foi logo acusada de fomentar e apoiar os nacionalistas, ainda que jamais tivesse se pronunciado contra a forma republicana de governo e a declaração da hierarquia católica em apoio ao general Franco ocorreu somente um ano após o início da guerra, não sem motivos óbvios, posto que a Igreja Católica, após anos de limitações, afrontas e assassinatos de seus membros, na zona nacionalista era respeitada e protegida. De acordo com Redondo (1993, p. 19), assim que chegou a Madrid a notícia do Alzamiento, igrejas e conventos foram incendiados e alguns jovens da Ação Católica foram assassinados enquanto tentavam salvar os templos.

Os assassinatos em massa de católicos não teve outro motivo senão o simples fato de pertencerem à Igreja Católica. Os republicanos negaram que havia perseguição religiosa na zona que governavam alegando que os milhares de assassinatos de padres, religiosos, religiosas e leigos foram “acidentais” ou porque eram “fascistas”. Apenas na segunda quinzena do mês de julho, foram mortos 124 padres, 12 freiras e 24 leigos em Madrid, 197 padres e três carmelitas em Barcelona, 14 seminaristas em Lérida e o bispo de Sigüenza (ROYAL, 2001, pp. 152-153).

Os atos de vandalismo, comuns desde o início da República, varreram templos e casas religiosas. Quando detidos, mesmo em flagrante, eram inocentados pelos tribunais. Ortí (1990, pp. 240-241) relata que em todas as dioceses espanholas, igrejas foram parcial ou totalmente destruídas, profanadas e saqueadas, tendo seus objetos litúrgicos roubados ou destruídos. Os lideres republicanos incitavam os milicianos a destruírem as igrejas mesmo que se encontrassem diante de obras arquitetônicas e monumentos históricos.

Neste contexto se explica os fatos violentos e sacrílegos tão graves como a profanação direta da sagrada Eucaristia, realizada de mil formas: esvaziando os sacrários, destruindo os objetos consagrados, alvejando o Santíssimo Sacramento, comendo sacrilegamente o que tinha nos vasos sagrados e bebendo utilizando-se dos cálices, jogando e pisoteando pelas ruas as sagradas hóstias, convertendo as igrejas em quadras e os altares em cocheiras para animais (ORTÍ, 1995, p. 84).

Mas, apesar de as destruições de igrejas e objetos sagrados serem chocantes, nada foi mais trágico do que o assassinato de milhares de católicos. Tendo a perseguição religiosa durante a República atingindo toda a sua ferocidade após o início da guerra, nos esclarece Ortí (1995) que:

Em toda a zona republicana, o culto público esteve proibido durante quase três anos. Nenhum templo permaneceu aberto e nenhuma cerimônia religiosa pode ser celebrada. Somente ao final da guerra, em Barcelona, existiu uma relativa tolerância para os atos religiosos privados e se permitiu a celebração pelas ruas de um funeral, com sacerdotes e cruz alçada, que serviu para que a propaganda republicana difundisse fotografias fazendo crer a existência de uma liberdade religiosa que, na realidade, nunca houve. A Igreja não existiu oficialmente no território republicano a partir de 18 de julho de 1936 até o final da guerra, mas se organizou clandestinamente. Os eclesiásticos foram assassinados simplesmente pelo que eram: os bispos de Almería, Guadix e Teruel, porque eram pastores da Igreja; as carmelitas de Guadalajara e as Irmãs da Doutrina Cristã de Mislata (Valência), porque eram freiras; e os passionistas, os claretianos, os Irmãos de São João de Deus, de La Salle, os escolápios, os marianistas e os Operários Diocesanos, porque eram sacerdotes e frades. O mesmo deve ser dito do engenheiro Vicente Vilar, de Manises (Valência), assassinado porque era um católico militante e um fervoroso filho da Igreja. Nenhum destes esteve jamais implicado em lutas políticas nem intervieram nelas (ORTÍ, 1995, p. 29).

Milicianos patrulhavam as ruas e pessoas eram detidas simplesmente porque carregavam alguma medalha religiosa ou crucifixo no pescoço. Clérigos e leigos fugiam da zona republicana atravessando a fronteira com a França ou refugiavam-se em embaixadas (ROYAL, 2001, p. 146).

Os católicos eram submetidos a todos os tipos de torturas psicológicas e físicas, mutilações e insultos. Numa reedição dos espetáculos romanos, padres e religiosos eram jogados nas arenas para serem mortos por animais, os assassinos cortavam as orelhas dos sacerdotes e as exibiam como troféus, muitos eram obrigados a engolir terços e crucifixos ou eram-lhes introduzidos nos ouvidos até que o tímpano fosse perfurado. Cemitérios foram profanados e os corpos de padres e freiras eram expostos nas ruas com escárnio (THOMAS, 1964, p. 272).

Padres, religiosos e religiosas eram arrastados para fora de hospitais, seminários e escolas, sendo que, muitas vezes, professores foram executados com seus alunos. Padres e freiras eram torturados para que renunciassem à fé gritando “Viva o comunismo” em vez de “Viva Cristo Rei”, o lema dos católicos espanhóis, inspirados nos seus irmãos perseguidos do México. Freiras eram estupradas e sacerdotes, castrados. Todas as formas de tortura e de matar foram empregadas no trato com católicos, fossem leigos ou clérigos. Nem a crucificação foi descartada (ROYAL, 2001, pp. 154-156). E Messori (2004, p. 45) afirma que a inventividade em matar dos perseguidores era tanta que “chegou-se ao extremo de recuperar barbáries cartaginesas como a de atar uma pessoa viva a um cadáver e deixá-los ao sol até ambos apodrecerem”.

Conforme relata Royal (2001, p. 159), padres, freiras e leigos eram assassinados em retaliação por alguma ação militar dos nacionalistas. Quando a cidade de Irún foi tomada, os republicanos executaram seis claretianos, em Barcelona. Em Madrid, vinte e três adoradoras foram fuziladas porque um miliciano republicano foi morto na rua do apartamento onde estavam refugiadas.

A Guerra Civil Espanhola terminou em primeiro de abril de 1939, com a vitória dos nacionalistas liderados pelo general Francisco Franco, tendo um saldo assustador para a Igreja Católica na Espanha: entre sacerdotes, religiosas e religiosos, o número de mortos chegou em 6832, destes sendo treze bispos, 4184 padres diocesanos, 2365 religiosos, 283 religiosas e vários seminaristas. Para se ter uma ideia da dimensão do genocídio perpetrado na zona republicana, as dioceses de Barbastro, em Aragão, perdeu 123 dos seus 140 padres, ou seja, 88% do total do presbitério; de Barcelona, 279 (22% do total); de Valência, 327 (27% do total) e de Madrid-Alcalá, 1118 (30% do total) (ROYAL, 2001, p. 141).

É impossível calcular o número de leigos assassinados durante a perseguição, pois ainda não existem estatísticas confiáveis. Mas, afirma Ortí (1990, p. 234), que “foram provavelmente vários milhares, haja conta dos dados oferecidos em alguns martirológios diocesanos”. Segundo Redondo (1993, p. 23), na Catalunha, a perseguição atingiu fortemente os leigos e afirma que “da Federação de Jovens Cristãos da Catalunha, que agrupava cerca de quinze mil [membros], foram assassinados mais de trezentos”. Sobre o número de leigos assassinados, assegura Sánchez, apud. Royal (2001, p. 142):

Um número incalculável de leigos foi morto por causa de sua ligação à religião, quer por serem frequentadores assíduos da igreja, quer por fazerem parte de organizações religiosas fraternas ou caritativas, quer por serem pais, mães, irmãos, irmãs ou amigos de membros do clero. Alguns foram mortos por ostentarem um símbolo exterior de fé, como uma medalha ou um escapulário. Outros foram mortos por praticarem atos de caridade, por darem refúgio a clérigos que tentavam escapar à fúria. É impossível determinar o número de leigos chacinados pela sua fé.

A maior perseguição aos católicos no século XX ainda é causa de controvérsias. Os defensores dos republicanos afirmam que as repressões à Igreja foi um mecanismo de defesa da República já que os bispos apoiavam os nacionalistas e influenciavam com esta decisão a maioria dos católicos o que, consequentemente, veio a formar a base de sustentação de uma longa ditadura fascista e sanguinária. Redondo (1993, pp. 25-26) esclarece esta controvérsia:

A pergunta que é inevitável formular, ainda que não seja de modo algum fácil de responder, é a que se deveu esta particularmente brutal perseguição religiosa. Possivelmente cabe aduzir toda uma gama de explicações possíveis: a perseguição se produz dentro de uma revolução social que, segundo o parecer de quem a investigou com mais detalhe, nos primeiros meses teve uma violência maior que a Revolução Russa, que levou os comunistas ao poder em 1917. A revolução tentava alterar radicalmente a estrutura social espanhola e, na situação precisa do país em 1936, muitos puderam pensar que um dos primeiros passos para conseguir a mudança absoluta era a eliminação da Igreja da vida espanhola e, consequentemente, o assassinato massivo de sacerdotes, religiosos e leigos. Porque tal situação chegou a acontecer, pode, de forma indireta, ter alguma culpa o mesmo clero que talvez se mostrou em excesso apegado a uma determinada concepção de vida social, a concepção cultural tradicionalista tão remissa a introduzir alguma mudança por entender que o que existia era o que tinha que existir, e além disso, para sempre. Neste sentido podem seguir aventurando-se em suposições que, em qualquer caso e em última instância, são incapazes de explicar aquele tremendo estouro de ódio e crueldade. Também deve-se levar em conta a propaganda constante e caluniosa que tantos mantinham contra a Igreja e seus ministros há mais de cem anos e em diversos setores: desde as publicações mais vulgares até os ataques sutis. De alguma maneira, como uma confirmação de todo isto, há de se lembrar que o assassinato de tão grande número de pessoas inocentes se juntou as profanações e destruição das igrejas, a destruição sacrílega de imagens, por uma espécie de afã de riscar do mapa até a última lembrança de tudo o que supusesse para o homem uma advertência de que havia algo mais do que o puramente material e tangível. Frente ao ódio antirreligioso, as advertências insistentes de que a Igreja nada teve a ver nem com a preparação, nem com o desenvolvimento do Alzamiento militar não foram já não mais escutadas, mas sequer foram ouvidas.

A despeito de um julgamento sobre o franquismo que não nos cabe neste artigo, sabendo que as perseguições e os inflamados discursos anticatólicos começaram juntamente com a República em 1931, Ortí (1995, p. 83) afirma que a grande maioria das mortes de sacerdotes e religiosos apenas teve motivações antirreligiosas, sem nenhum indício de motivação política e que as execuções em massa de católicos sem distinção de sexo, idade ou classe social demonstram que os assassinatos ocorreram fora de qualquer contexto político.

Referências bibliográficas

MESSORI, Vittorio. Leyendas Negras de la Iglesia. 11. ed. Barcelona: Planeta, 2004.

ORTÍ, Vicente Cárcel. La Persecución Religiosa en España durante la Segunda República (1931-1939). 2. ed. Madrid: Rialp, 1990.

Mártires Españoles del Siglo XX. Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos, 1995.

REDONDO, Gonzalo. Historia de la Iglesia en España 1931-1939: Tomo II – La Guerra Civil (1936-1939). Madrid: Rialp, 1993.

ROPS, Henri Daniel. A Igreja das Revoluções (I). v. 8. Coleção História da Igreja. São Paulo: Quadrante, 2003.

A Igreja das Revoluções (II). v. 9. Coleção História da Igreja. São Paulo: Quadrante, 2006.

ROYAL, Robert. Os Mártires Católicos do Século XX: uma História do Tamanho do Mundo. Cascais: Principia, 2001.

THOMAS, Hugh. A Guerra Civil Espanhola. v. 2. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1964.

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

O projeto anti-cristão da agenda gay


Os noticiários não falam de outra coisa. O liberalismo sexual, no qual se inclui a causa gay, ganhou de vez as manchetes dos principais jornais do país, numa avalanche que parece não ter mais freio. A unanimidade da imprensa em decretar o novo padrão de moralidade é tão eloquente que os mais desavisados sentem-se quase que impelidos a concordar com ele, mesmo que a contragosto. Mas enganam-se aqueles que, ingenuamente, atribuem essas movimentações ao curso natural da história. Trata-se, pelo contrário, de uma agenda compacta, determinada e amplamente financiada, cuja única meta é: minar os fundamentos da sociedade ocidental, em última análise, a natureza humana.
Não é mais segredo para ninguém a hostilidade com que inúmeras nações se referem ao cristianismo. Praticamente todos os programas de governos atuais têm por política o combate aos últimos resquícios de fé católica que ainda restam na sociedade. E essa agenda ideológica encontra eco sobretudo nas Organizações das Nações Unidas, logicamente, a mais interessada no chamado "Sionismo". Essa perseguição sistemática à religião cristã e, mais especificamente à Igreja Católica, se explica pelo fato de ela ser única a levantar a bandeira da lei natural, que é a pedra no sapato dos interesses globalistas.
Em linhas gerais, o direito natural refere-se ao que está inscrito no próprio ser da pessoa. Isso supõe uma ponte de acesso a uma moral humana já pré-estabelecida, com direitos e deveres naturais, conforme a ordem da criação. Não corresponde a um direito revelado, mas a uma verdade originária do ser humano, que através da razão indica aquilo que é justo ou não. Essa defesa do direito natural foi o grande diferencial do cristianismo em relação às demais religiões no início do primeiro milênio, como assinala o Papa Emérito Bento XVI ao Parlamento Alemão, em um dos discursos mais importantes de seu pontificado:
"Ao contrário doutras grandes religiões, o cristianismo nunca impôs ao Estado e à sociedade um direito revelado, nunca impôs um ordenamento jurídico derivado duma revelação. Mas apelou para a natureza e a razão como verdadeiras fontes do direito; apelou para a harmonia entre razão objectiva e subjectiva, mas uma harmonia que pressupõe serem as duas esferas fundadas na Razão criadora de Deus", (Cf. Bento XVI ao Parlamento Federal da Alemanha em 2011).
A Igreja condena a perversidade do relativismo justamente por essa falsa sensação de liberdade propagandeada por ele. É a mesma liberdade oferecida pela serpente do Éden à Eva, a falsa beleza que, na verdade, é escravidão. Quando exposta em termos claros e diretos, a lei natural se torna evidente. A lei natural encontra apelo no ser humano justamente por ser verdade e estar de acordo com a razão criadora, o Creator Spiritus. O Magistério Católico é, neste sentido, um dos únicos baluartes da justiça e da dignidade da pessoa humana, por falar quase que solitário em defesa da lei natural.
O trabalho da elite sionista - diga-se ONU, imprensa, ONGs esquerdistas e etc - consiste, neste sentido, única e exclusivamente na destruição desses pilares da lei natural. Assim, sepultam-na numa espiral do silêncio, enquanto reproduzem na mídia uma moral totalmente avessa e contrária à família. Desse modo, abrem espaço para a educação das crianças pelo Estado conforme a cartilha ideológica que defendem. É um programa totalmente voltado para a subversão e o controle comportamental que está sendo colocado em prática, descaradamente, por países como Estados Unidos, França, Suécia, Holanda e até mesmo o Brasil.

Neste momento, em que a Igreja vê-se atacada por todos os lados e se joga com a vida humana como se fosse algo qualquer e sem valor, urge o despertar de pessoas santas, imbuídas por uma verdadeira paixão à Verdade. Todas as grandes crises pelas quais a Igreja passou nos últimos séculos foram enfrentadas por santos de grande valor: São Luís Maria Grignion de Montfort, São João Maria Vianney, Santa Catarina de Sena, São Pio X... E essa crise atual requer a mesma fibra, o mesmo destemor e parresia com os quais aqueles santos estavam dispostos a entregar suas vidas, suas fortunas e até mesmo os seus nomes, sem medo da humilhação, firmes na Providência Divina e na certeza de que no alvorecer do novo dia será de Deus a última e definitiva palavra.

O papa Francisco ultimamente sofreu grandes críticas por recomendar psiquiatria para crianças com tendências homossexuais, por conta desse pronunciamento em uma entrevista feita por Francisco  dentro de um avião, que o levava da Irlanda para Roma, causou diversos protestos por ONG's LGBT's em vários países pelo mundo, e para piorar a história muitos cristãos se condenaram com tal pronunciamento, e com isso se alinharam juntos as fileiras dos LGBT's, contra o seu próprio Papa, com inúmeros ataques e manchetes, o Vaticano foi quase que obrigado a se explicar falando que foi mal compreendido, e o uso de psiquiatria  era apenas para um crescimento saudável de sua orientação sexual da criança. 
É lamentável como o mundo moderno ataca em massa qualquer Órgão ou pessoa que se posicione contra o a agenda internacional dos sionistas, não é de hoje que a igreja se posiciona contra os homossexuais, não por serem exatamente contra  os homossexuais, mas sim por serem à favor da lei natural, a lei certa: o homem e a mulher. 

terça-feira, 11 de setembro de 2018

O negro no Integralismo


A revista “Aventuras na História”, da Editora Abril, uma vez afirmou que o Integralismo constitui um movimento racista, chegando ao cúmulo de dizer que os Integralistas espancavam negros. Até que se prove o contrário, prefiro supor que tais afirmações sejam fruto não da má-fé do mencionado periódico, mas sim da absoluta ignorância que muitos brasileiros, infelizmente, ainda têm em relação ao Integralismo, por eles conhecido através de livros, filmes, minisséries e telenovelas que não fazem mais do que repetir velhas e carcomidas calúnias dos agentes do Komintern de Stálin e do DIP de Getúlio Vargas.
Ora, o Integralismo, como doutrina essencialmente cristã e brasileira, sempre foi radicalmente contrário a qualquer forma de racismo. Foi, aliás, o primeiro movimento, no Brasil, a aceitar em suas fileiras, inclusive em posições de liderança, negros, bem como mulheres – as famosas blusas-verdes - e índios.
No chamado Manifesto de Outubro, documento que funda oficialmente o Integralismo e que é lido por seu autor, Plínio Salgado, já então ex-deputado estadual por São Paulo, além de escritor e jornalista de renome, a 07 de Outubro de 1932 no Teatro Municipal de São Paulo, já se denunciava que “os brasileiros das cidades não conhecem os pensadores, os escritores, os poetas nacionais. Envergonham-se também do caboclo e do negro de nossa terra. Adquiriram hábitos cosmopolitas. Não conhecem todas as dificuldades e todos os heroísmos, todos os sofrimentos e todas as aspirações, o sonho, a energia, a coragem do povo brasileiro. Vivem a cobri-lo de baldões e de ironias, a amesquinhar as raças de que proviemos. Vivem a engrandecer tudo o que é de fora, desprezando todas as iniciativas nacionais. Tendo-nos dado um regime político inadequado, preferem, diante dos desastres da Pátria, acusar o brasileiro de incapaz, em vez de confessar que o regime é que era incapaz.”
O insuspeitíssimo sociólogo Gilberto Freyre, em sua obra “Uma cultura ameaçada – a luso-brasileira”, de 1942 (citado por Jayme Ferreira da Silva em “A Verdade Sobre o Integralismo”), refere-se ao geógrafo nacional-socialista Reinhard Maack, que, na revista de professores da Universidade de Harvard, nos EUA, já havia expedido suas idéias profundamente racistas: “O geógrafo Maack atribui essas idéias universalistas, para ele absurdas, ao próprio movimento integralista, recordando, com indignação, que um dos chefes teuto-brasileiros do extinto partido teria exclamado, em discurso em Blumenau: ‘Na época de completa fraternização de toda a família brasileira num Estado integral, não haverá mais diferenças de raça e de cor’. Para nós, um dos pontos simpáticos e essencialmente brasileiros do programa daquele movimento. Para o geógrafo Maack: ‘heresia das heresias’. Os homens de raça e de cultura germânica, sob a orientação nazista, não se submeteriam nunca a semelhante confraternização de raças e de costumes, dentro das tradições portuguesas que se tornaram estruturais para o desenvolvimento brasileiro.”
Não custa lembrar, ademais, que Plínio Salgado, como bem observa Hélio Rocha em seu livro “Integralismo não é Totalitarismo”, de 1950, “foi o primeiro jornalista sul-americano que rompeu fogo contra o Nazismo” e também o primeiro intelectual e homem de ação do País a fazer uma denúncia de peso contra esse movimento racista, em sua “Carta de Natal e Fim de Ano”, de 1935, sendo em razão disto e de suas idéias profundamente cristãs, democráticas e, portanto, anti-racistas e anti-totalitárias, seus livros proibidos de circular na Alemanha de Hitler.
Dentre os integralistas negros – inúmeros, como podemos ver através de centenas de fotografias –, incluem-se o líder negro, ex-senador, teatrólogo, ator, escritor, artista plástico e professor Abdias do Nascimento, o “Almirante Negro” João Cândido, o sociólogo Guerreiro Ramos, o ativista negro e escritor Sebastião Rodrigues Alves e o jornalista, escritor, advogado, professor e militante negro Ironides Rodrigues, que assinou durante anos uma excelente coluna sobre cinema no jornal integralista “A Marcha”.
João Cândido Felisberto, líder da chamada Revolta da Chibata e símbolo da luta não apenas do negro, mas de toda a classe trabalhadora deste País, aderiu ao Integralismo no ano de 1933, tornando-se amigo de Plínio Salgado. Em 1968, no longo depoimento que concedeu ao Museu da Imagem e do Som, declarou a amizade para com o fundador da Ação Integralista Brasileira (AIB) e o orgulho de haver feito parte daquele formidável movimento cívico-político, onde, segundo ele, “era muito bem tratado, como chefe.”
No livro “Memórias do Exílio”, de autoria coletiva, Abdias do Nascimento declara que os temas que o “atraíram para as fileiras integralistas” foram “as lutas nacionalistas e anti-imperialistas” – fato que, como observa Rubem Nogueira em sua monumental obra “O Homem e o Muro”, só causa espanto àqueles que jamais leram sequer um dos inúmeros livros de orientação doutrinária de Plínio Salgado, Miguel Reale, Gustavo Barroso, Tasso da Silveira, Olbiano de Mello, Victor Pujol, Hélio Vianna, Olympio Mourão Filho, Custódio de Viveiros, Madeira de Freitas, Ovídio da Cunha, Jayme Ferreira da Silva, Osvaldo Gouvêa e outros, obras em que se condensa o pensamento do Integralismo, movimento que sempre professou a teoria do engrandecimento da nação brasileira, opondo-se, portanto, a todo tipo de imperialismo.
Abdias qualifica o tempo em que militou na AIB como “etapa importante de minha vida” e prossegue recordando que “no Integralismo foi onde pela primeira vez comecei a entender a realidade social, econômica e política do país e as implicações internacionais que o envolviam.”
Prossegue o idealizador e realizador do Teatro Experimental do Negro frisando que “a juventude integralista estudava muito e com seriedade. Encontrei e conheci pessoas de primeira qualidade como um San Thiago Dantas, Gerardo Mello Mourão ou Roland Corbisier; assim como um Rômulo de Almeida, Lauro Escorel, Jaime de Azevedo Rodrigues, o bravo embaixador brasileiro num país europeu que se demitiu da carreira após o golpe militar de 1964; ou ainda Dom Hélder Câmara, Ernani da Silva Bruno, Antônio Galloti, Mazzei Guimarães e muitos outros. Conheci bem de perto o chefe integralista Plínio Salgado, de quem em certa época fui amigo.”
Anos mais tarde, quando acontecia a II Guerra Mundial e Abdias do Nascimento e seu Comitê Democrático Afro-Brasileiro costumavam reunir-se na sede da União Nacional dos Estudantes (UNE), os comunistas passaram a usar o passado integralista de Abdias como um “slogan de confrontação”, chegando a, certa feita, exigir de sua parte uma retratação pública.
Abdias, porém, como “homem honrado e de coragem moral”, no dizer de Rubem Nogueira, negou-se a renegar o passado integralista, pois “não tinha nada a declarar naquela espécie de autocrítica sob coação. Nada havia no meu passado para lamentar ou arrepender. Não me submeteria àquela chantagem.”
Na década de 1930, Abdias do Nascimento militara ao mesmo tempo na Ação Integralista Brasileira (AIB) e na Frente Negra Brasileira (FNB), organizações que - como observa Karin Sant’Anna Kössling em sua dissertação sobre “Os Movimentos Negros: Identidade Étnica e Identidade Política”, datada de 2004 e citada por Márcio José Carneiro em sua tese “Abdias do Nascimento – a trajetória de um negro revoltado” – partilhavam das mesmas concepções sobre o Brasil e o seu povo, obtiveram a atenção dos chamados afro-descendentes de São Paulo e tiveram uma relação bastante intensa, conforme demonstram as notícias veiculadas no periódico integralista “A Acção”, de maio de 1937, que divulgou os eventos em celebração à Abolição realizados pela FNB, que levou palestrantes integralistas às comemorações.
A principal preocupação apresentada pelos editoriais de “A Acção” era, como lembra Kössling, a crítica à lamentável situação social e política decorrente do capitalismo liberal, propondo uma Nova Abolição, “elaborando uma grande força de libertação nacional, de um novo e amplo 13 de maio para o povo brasileiro”; observava-se, com efeito, que o problema de exclusão social que o negro brasileiro vivenciava não configurava algo específico, mas sim mais um dos frutos nefandos do liberal-capitalismo.
A FNB teve como fundador e primeiro presidente o Dr. Arlindo Veiga dos Santos, que foi um dos mais expressivos líderes da Ação Imperial Patrianovista Brasileira, denominação que recebeu a partir de 1935 o movimento monárquico Pátria Nova, assim como amigo de Plínio Salgado, participando de sua Sociedade de Estudos Políticos (SEP), núcleo de grande relevo dedicado à meditação sobre a problemática política e social brasileira fundado oficialmente a 12 de março de 1932 no Salão de Armas do Clube Português, em São Paulo, e de que participaram, além do próprio Plínio Salgado e de Arlindo Veiga dos Santos, outros notáveis intelectuais como Mario Graciotti, Ataliba Nogueira, Fernando Callage, José de Almeida Camargo, Alpínolo Lopes Casali, Antonio de Toledo Piza, Cândido Motta Filho, Iracy Igayara, José Maria Machado, Rui de Arruda Camargo, Alfredo Buzaid, Carvalho Pinto, Sebastião Pagano, Mario Zaroni, Leães Sobrinho, João de Oliveira Filho, Eurico Guedes de Araújo, Manoel Pinto da Silva, Lauro Pedroso, Dutra da Silva, Rui Ferreira dos Santos, Goffredo e Ignacio da Silva Telles, Roland Corbisier, Ernani Silva Bruno, Azib Buzaide, James Alvim, Fausto Campos, Eduardo Rossi, Francisco Stela, Gabriel Vendomi de Barros, Pimenta de Castro, Lauro Escorel, Francisco de Almeida Prado, Almeida Salles, Waldir da Silva Prado, Plínio Corrêa de Oliveira e tantos outros não menos ilustres.
O ínclito poeta, livreiro e editor Augusto Frederico Schmidt, amigo pessoal e admirador de Plínio Salgado desde o ano de 1926, quando este publicara o revolucionário e aclamado romance “O Estrangeiro”, acolheu com entusiasmo a Sociedade de Estudos Políticos, logo articulando no Rio um grupo de jovens constituído por Antônio Gallotti, Américo Jacobina Lacombe, Thiers Martins Moreira, Lourival Fontes, Chermont de Miranda e outros, indo freqüentemente à então Capital Federal, para estimular o grupo, Plínio Salgado e San Tiago Dantas, que ora residia em São Paulo, trabalhando ao lado de Plínio no jornal “A Razão”, que revolucionou a imprensa da Capital Bandeirante e mesmo do Brasil e acabaria empastelado nos distúrbios de 23 de maio de 1932.
Voltemos, porém, à FNB. Mantinha ela um periódico informativo intitulado “A Voz da Raça”, que utilizava o cabeçalho “Deus, Pátria, Raça e Família”, em clara analogia ao lema integralista “Deus, Pátria e Família”. Conforme já disse, teve ela uma relação de amizade e colaboração muito intensas com o Integralismo, movimento com o qual tinha em comum, além do nacionalismo e da luta contra o racismo e pela integração do negro na sociedade, o espiritualismo e o combate sem tréguas ao comunismo e ao liberalismo, ambos materialistas e apátridas.
A FNB, fundada em São Paulo a 16 de setembro de 1931, tendo sua sede social central à Rua da Liberdade, reuniu milhares de filiados, estendendo-se a vários Estados brasileiros e tornando-se partido político em 1936, sendo extinta no ano seguinte, juntamente com a AIB e demais partidos e agremiações políticas, pelo Estado Novo de Getúlio Vargas.
Encerro aqui este modesto trabalho, esperando de todo coração que ele sirva para conscientizar mais pessoas de que o Integralismo jamais foi um movimento racista ou de inspiração nazista, como afirmam irresponsavelmente diversos livros de ESTÓRIA, inspirando interpretações do Movimento do Sigma tão absurdas quanto as das últimas minisséries e telenovelas da Rede Globo de Televisão. Estou certo de que ele, em que pese sua singeleza, será de grande importância no presente momento, momento em que o Integralismo, praticamente adormecido há decênios, ressurge com força total, reunindo novamente, à sombra da bandeira azul e branca, milhares de pessoas de todos os credos, todas as etnias e todas as classes sociais irmanadas no sonho de libertar o Brasil e seu povo, reconduzindo-os à sua vocação histórica e construindo a Democracia e o Estado Integrais.

domingo, 2 de setembro de 2018

Benito Mussolini e o Islamismo

A famosa foto de Benito Mussolini brandindo em seu cavalo a "Espada do Islã'',
que lhe dava ''autoridade califal''.

Em 1934, após a criação da Líbia italiana, Mussolini adotou uma política para encorajar aproximações com o Islã, chamando a população local de "muçulmanos italianos da quarta margem da Itália", construindo ou restaurando mesquitas e escolas corânicas, preparando instalações de serviço para os peregrinos rumo a Meca e até mesmo inaugurando a ''Escola Secundária de Cultura Islâmica'' em Trípoli. Por trás da aparente intenção humanitária, o líder fascista e alguns setores do mundo islâmico viam a França e o Reino Unido como inimigos comuns e Mussolini queria explorar isso a seu favor. Esses interesses comuns foram gerados a partir do ressentimento aos acordos do Tratado de Versalhes de 1919, em vantagem da França e Reino Unido, que não satisfizeram plenamente as demandas da Itália, nem dos muçulmanos.

A fim de obter o favor dos árabes e selar-se a aliança, Mussolini, embora signatário do Tratado de Latrão com a Santa Sé, decidiu conceder-lhe o título de Protetor do Islã. De acordo com a interpretação de Mussolini, com o governo italiano assumindo o lugar dos otomanos na Líbia, tal título lhe foi legado, já que, de alguma maneira, ele era herdeiro da autoridade do califa. Em 20 de março de 1937, nos arredores de Trípoli, Mussolini recebeu a ''Espada do Islã'' de Yusuf Kerisc, um importante apoiador berbere da ocupação italiana contra a resistência líbia, durante uma cerimônia pródiga. Depois de entrar em Trípoli entre saudações de canhões e à frente de um contingente de 2.600 cavaleiros, Mussolini reafirmou sua proximidade com a população muçulmana, garantindo "paz, justiça, bem-estar e respeito pelas leis do Profeta".

Apesar da aprovação da mídia do regime, a cerimônia provocou hilaridade entre o povo italiano por causa de suas conotações absurdas e paradoxais. Uma das fotografias do evento, retratando Mussolini na sela de um cavalo segurado pelo cabresto por um cavalariço, em sua versão oficial foi retocada e publicada excluindo o cavalariço, a fim de fazer parecer que Mussolini era capaz de montar o seu próprio cavalo sem a ajuda de ninguém, e claro, o mais importante, brandindo a famosa "Espada do Islã'.

No ano seguinte, um monumento a cavalo foi inaugurado na praça principal da capital da Líbia em homenagem a Mussolini. Sua base dizia: "Para Benito Mussolini, pacificador do povo, redentor da terra da Líbia, a população consciente e exposições onde a Espada do Islã brilhou consagram no signo do Lictor uma lealdade que desafia o destino ".

A espada, decorada em arabesco, equipada com uma lâmina reta de dois gumes e com um punho e frisos de ouro maciço, foi obtida do ateliê de arte Picchiani e Barlacchi di Firenze, por ordem do próprio Mussolini. Depois de 1937, o objeto não era mais usado e estava guardado em um pequeno relicário de vidro em Rocca delle Caminate, residência de verão de Mussolini. Não houve mais sinais do objeto depois de 25 de julho de 1943, quando Rocca delle Caminate foi devastada e saqueada por antifascistas.
Fonte: História Islâmica

sábado, 1 de setembro de 2018

Armando Zanine: Efígie Nacional


SÉRIE EFÍGIES NACIONAIS(5 DE 5)

ARMANDO ZANINE

Armando Zanine Teixeira Júnior, um carioca, nasceu em 1930, foi um antigo oficial da Marinha e ex-militante do Partido Socialista Brasileiro.
Fundou em 1985 o Partido Nacional Socialista Brasileiro(PNSB), na qual pesquisas apontam que o partido teria dez mil integrantes por todo Brasil, com células em São Paulo, Rio de Janeiro, Sergipe, Bahia, Brasília, Rio Grande do Sul e Mato Grosso.
A base deste nacionalismo era a construção do que seu fundador denominava de “raça brasileira”, para a qual seriam aceitas pessoas de todas as “raças e religiões”. O PNSB tentou por várias vezes o seu registro junto ao Tribunal Superior Eleitoral, a fim de lançar seus candidatos em eleições, obtendo do TSE rejeição todas as vezes, devido às garantias constitucionais em repúdio a qualquer forma de apologia ao nazismo. Ainda que não tenha sido legalmente registrado, o PNSB contava com uma articulada rede de comunicação de âmbito nacional, militantes em vários Estados, principalmente no sul e sudeste, porém também em Estados do nordeste como Sergipe e Bahia.
O Zanine divulgava os ideais do partido por meio de palestras, fanzines, contatos, reuniões, promoção de eventos, divulgação de panfletos, manifestos e jornais, entre outros. Entre eles, podemos citar o Desperta Brasil, editado para servir de porta voz.
Criador da "Política Racial" cujo o objetivo é " Construir a Raça Brasileira, estabilizar o povo, e garantir a sua saúde." segundo esse documento a raça brasileira esta sendo formada através do convívio , da adaptação ao meio ambiente e da miscigenação de índios, brancos, negros e asiáticos, assim como da influência do nosso ambiente cultural. Segundo Armando Zanine, se um judeu nasceu no Brasil ele, pela lei brasileira, é brasileiro mas deve decidir se quer pertencer ao povo judeu deve deixar o Brasil e ir para Israel.
Zanine ainda firmava que: "Hitler é o homem mais injustiçado da história."
Em 30 de Agosto de 1994 Zanini disse que estava preparando a fundação de um novo partido, que traria explícito em seu programa a ressalva de que é contra o racismo. O partido seria o Partido Nacionalista Revolucionário Brasileiro.
Zanini acreditava que Enéas, na época candidato para o cargo de presidente, tinha chances de chegar ao Planalto afirmando:
"No momento ele não tem chance, mas se tiver uma zebra, se o plano fracassar, se o Lula ou Fernando Henrique derem uns deslizes, aí o Enéas sobe. E pode ganhar"
O PRONA dispensou o apoio dos partidários de Zanini. Um assessor de Enéas, Hélio Codeceira, disse que não existe a menor chance de uma aproximação partidária entre o Prona e o PNRB.